AS DIVERGÊNCIAS ENTRE SOCRATES E FERREIRA LEITE

A maioria dos analistas políticos fala num empate no frente-a-frente entre José Sócrates e Manuela Ferreira Leite. Economia, Segurança Social, Saúde e TGV foram alguns temas que marcaram o debate.

Para mim foi uma espécie de derby, em que não se decide tudo, mas que pode dar uma vantagem, nem que seja anímica, a um dos contendores perante a situação de proximidade em que se encontram.
À chegada a este debate, Manuela Ferreira Leite e José Sócrates estão numa situação impensável há dois anos ou mesmo há um ano atrás.
Até ao momento ambos têm tido desempenhos acima das expectativas, com Manuela Ferreira Leite a suportar sem grandes danos os três debates anteriores e José Sócrates a oscilar entre o evidente nervosismo do encontro com Paulo Portas que levou a antever o pior para o ciclo de debates e a razoável e inesperada calma com Louçã.
Hoje os riscos são diferentes para cada um deles. Para Manuela Ferreira Leite, o deixar-se ultrapassar pelo discurso rápido e agressivo de Sócrates, que tentará recuperar a sua obsessão pelo défice. Para Sócrates o parecer deselegante, se voltar a usar de uma táctica demasiado agressiva como o fez com os outros candidatos. Afinal é uma senhora e já foi mais nova.
Uma coisa têm em comum: um ar de relativo desdém quando os interlocutores estão a falar.
Relativamente ao conteúdo;
Manuela Ferreira Leite acusou o PS de estar envolvido com autarcas espanhóis em manifestações e pressões contra a posição defendida sobre o TGV. E acrescentou: "Eu não estou aqui para defender os interesses dos espanhóis, eu estou aqui para defender os interesses portugueses."
A presidente do PSD alega que Espanha está interessada que a rede de alta-velocidade chegue a Portugal para captar "mais fundos comunitários".
Em resposta, o líder do PS afirmou que essas alegadas manifestações são "uma expressão legítima de discordância".
Economia no centro do debate;
Foi um tema que gerou controvérsia. A líder do PSD considerou que, independentemente da crise mundial, o Governo socialista empobreceu o país.
"Quando veio a crise, que efectivamente agravou todos os indicadores, foi uma benesse para o Engenheiro Sócrates, porque neste momento ele tem a hipótese de dizer que a situação do país se deve à crise", disse Ferreira Leite.
"Se não houvesse a crise penso que o engenheiro Sócrates teria muita dificuldades em estar aqui como candidato a primeiro-ministro".
Sócrates respondeu acusando a líder do PSD de cultivar o pessimismo e defendeu que em 2007 o país cresceu mais do que nos três anos ente 2002 e 2004.
Acrescentou ainda que em 2007 Portugal "estava a criar empregos".
Segurança Social ;
Uma vez mais, o líder do PS acusou o PSD de estar a preparar a passagem para o privado de parte das contribuições dos portugueses. "Tem medo dessa proposta e então não a escreve", disse José Sócrates, referindo-se ao programa político do PSD. "Não é assumida porque estamos em tempo de eleições", acrescentou.
Manuela Ferreira Leite negou a intenção avançada e acusou, por sua vez, o Governo de ter feito uma reforma na Segurança Social com base "no aumento da idade de reforma" e "na redução das reformas". Em vez dos actuais "70 ou 80 por cento" do vencimento, "daqui a dez anos" os portugueses vão receber "metade do seu vencimento bruto", disse Ferreira Leite.
Cenário pós-eleitoral;
Mensagens diferentes sobre o que pode acontecer caso nenhum dos partidos tenha uma maioria confortável para governar. José Sócrates afirmou que se "candidata para resolver os problemas do país, em nome de um projecto de modernização. Antecipar esses cenários (entendimentos governativos), acho um abuso relativamente àquilo que vai ser a escolha dos portugueses".
Já Manuela Ferreira Leite exclui qualquer possibilidade de acordo com o PS. "Considero que não tenho a mínima hipótese de me entender em termos políticos com o Engenheiro Sócrates. Está absolutamente fora de causa, porque a forma como vemos a política, como entendemos os processos e encaramos as questões básicas para o crescimento do paés é de tal forma divergente".
As eleições estão agendadas para o dia 27 deste mês e uma coisa está assegurada, não haverá maioria absoluta!
2009-09-13